terça-feira, maio 17, 2005

leveza

Soltam-se as palavras
Livres esvoaçam pelo espaço
Aberto incerto
Da mente sorridente
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Vidente de boas épocas
Vindouras sonhadas
Intercaladas por premonições
De esoterismo mistificado
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Canções espalham-se entornadas
Por viola atestada de sentimento
Puro cristalino de violento afecto
Projecto partilhado à volta da fogueira
Vontade de beijo dança na clareira
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Queima a madeira do isolado caso bicudo
Crónico afastamento da particular qualidade
Do momento que contudo nunca se repete
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Não faz frete quem ama
Enrola no corpo do outro
Sua a cola que pega na pele
Cega a beleza inverte a tristeza
Não há certeza do amanhã
Não é vã a vida trincada
Saboreado momento indecente
O presente é tudo o que importa?
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Ao fundo uma porta
Aberta incerta da mente
Sorridente esbatida ferida
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Encosta ao toque de leve
A mão feminina requintada
Enche preenche e pinta de côr garrida
A dureza empedernida
De séculos solitários
Mói a rocha dorida
O tocar suave
Não sugere entrave
Erode em areia fina
A má sorte triste sina
De olhar baço sustentado
Peso metálico de ferrugenta solidão
Em vão
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Chegada a água benta
Tudo o que arde cura
E cada segundo perdura
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Furada a casca do calo
Levado na cara o estalo
A vida é fácil o corpo é leve
O ar é fresco e os pássaros da frente
Chilream entre si que tudo passa tudo muda
E nada dura para sempre

quinta-feira, maio 12, 2005

renovação

Uma nova Era emerge após passada eternidade. A Era da morna amenidade da brisa que sopra do norte, da paz densa inspirada de frágil fragrância a princesa do bosque, humilde riqueza de Vida fervilhada em camponesa favorecida por florescidas bastas formas formadas em dias sem pressa por sossego de embalo, cadência campestre dos campos de terra arejada irrigada por água escorrida de calha roubada do rio o fio de caudal, cobiçado pela secura que sufoca a manta de terra de solo ressequido ávido de fluido, o solo sulcado por calos de pesada enxada tombada, rasgada a camada seca de poeira assente em calma aparente. Ao Sol radiante reluz a pele do lagarto que torra o dorso em muro escaldado de pedra à mão empilhada. O tempo pára
e descansa à sombra do chaparro fuma um cigarro e deleita-se no torpor envolvente de um todo ausente. Presentes apenas insectos tacteadores e os calores da envolvência de um universo amado.

segunda-feira, maio 02, 2005

ventre

Imerso em âmnio flutua o feto vagarosamente vestido em sua translúcida figura. Envolto em placenta não sabe o que não inventa, testa o membro recente sem fadiga roça na barriga por dentro, mexe o olhar atento do ente materno que o embrulha. Partido o aconchego de toca protectora e do manto líquido quente que ainda o sente, chegada a frieza do ar que fere o frágil pequeno pulmão, a exposição incubada da sala de vidro fechada, a palmada no rabo sem nada ter de pecado, eis por fim o seio encantado, o leite morno que sai do corpo de onde saído em atraso arrastado. Queria ficar para sempre no seu ventre seguro, não ter de enfrentar este mundo que aturo. No fundo jamais o deixei, continuo imerso no amor da sua presença a seguir o caminho que jorra da ponte por si projectada e a ter veia conectada com panaceia de conselhos protectores contra as dores. Beijo a bela face de quem me pariu mas nunca partiu, quem de mim fez o que hoje me vejo e de futuro prevejo.