segunda-feira, maio 02, 2005

ventre

Imerso em âmnio flutua o feto vagarosamente vestido em sua translúcida figura. Envolto em placenta não sabe o que não inventa, testa o membro recente sem fadiga roça na barriga por dentro, mexe o olhar atento do ente materno que o embrulha. Partido o aconchego de toca protectora e do manto líquido quente que ainda o sente, chegada a frieza do ar que fere o frágil pequeno pulmão, a exposição incubada da sala de vidro fechada, a palmada no rabo sem nada ter de pecado, eis por fim o seio encantado, o leite morno que sai do corpo de onde saído em atraso arrastado. Queria ficar para sempre no seu ventre seguro, não ter de enfrentar este mundo que aturo. No fundo jamais o deixei, continuo imerso no amor da sua presença a seguir o caminho que jorra da ponte por si projectada e a ter veia conectada com panaceia de conselhos protectores contra as dores. Beijo a bela face de quem me pariu mas nunca partiu, quem de mim fez o que hoje me vejo e de futuro prevejo.

7 comentários:

Anónimo disse...

Tens uma forma muito especial de abordar os temas. A própria linguagem é diferente. Bela, reflexiva, original. Gostei deste post sobre o estar no ventre materno, ainda que cá fora.
Beijos

wind disse...

Belo post:)

BlueShell disse...

Hoje não comento como devia. Cheguei agora do trabalho e estou “rota”...
Jinho, BShell

agua_quente disse...

Tratas as palavras duma forma muito original. Gostei de ler. Quem não tem por vezes esse desejo de voltar ao ventre materno?
Beijos

Patrícia Evans disse...

LINDO!!!
PROFUNDAMENTE LINDO!!
;-)

Anónimo disse...

emocionei-me. Fizeste-me lembrar de como te sentia mover dentro de mim, do prazer que sentia a amamentar-te, da história da nossa vida juntos. Fizeste-me sentir amada, fizeste-me sentir uma boa mae. Não podia ter tido presente melhor.
Obrigado Andre. Gosto muito, muito de ti.

gato_escaldado disse...

Eros vencendo Thanatos. gostei muito. beijo