A presença de uma estrutura exige satisfação. A pretenção é expressar, jorrar fora o que se tem dentro, gerar dinâmica renovadora de sistema psíquico, criar um mecanismo optimizado de manutenção da homeostasia interna, assegurar transfiguração eficaz e coerente da malha neuronal de forma a minimizar o desperdício de recursos e energia em processos cognitivos autodestrutivos canalizando o excedente de uma forma construtiva e autopreservante.
domingo, outubro 30, 2005
quinta-feira, outubro 27, 2005
o pastor
Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer o modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar -se e ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a natureza produziu.
Fernando Pessoa, em " O guardador de rebanhos"
Procuro esquecer o modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar -se e ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a natureza produziu.
Fernando Pessoa, em " O guardador de rebanhos"
sábado, outubro 22, 2005
sexta-feira, outubro 21, 2005
miragem
Mira a paisagem abraçada num longo esticar de braços. O peito insufla-se daquela essência do verde que só cheirado se beija. Subido o cone vulcânico dormente em alcova de lava enfim o espaço e a côr em doses de natureza transformada mas mantida. Homens minúsculos seguem o rumo à muito traçado onde o acumulado do que já tanto passou antevê o que para aí vem, empurrado pelo que foi e de olhos colados aos seus, aqueles que o rodeiam o amam e lhe dão sentido. A calma paira em estática ausência de movimento . A ilha um quadro gelado em seu bucólico instante. Transparência de brisa inalada limpa interiores conspurcados de organismo urbano vivido, enchida a bochecha cuspido sem dó o pó dos livros, os pixels televisivos, as teclas de letras gastas e o afecto ondulante em sua inconstância balançante de proximidade e distância, o vai-vem da maré que persegue a lua. Falua, será que um dia a apanha? Se nunca desiste e se persiste em sua demanda infinita, terá algum dia a paz que teimosa teima em furtar da vista o seu direito ao esplendor? E o deslumbramento da beleza da complexidade do universo, quem o afaga, quem o mantém? Ninguém? Mas o verde persiste. E o espaço que ele ocupa no mar que o rodeia. É terra cercada pelo mar da erosão que a consome. Não se rende. Nunca desiste. Persiste em sua demanda e retalia no sangrar tectónico das placas que se movem e empurram a rocha líquida para cima, para onde o mar corrói vulcão, canhão de luta fera bruta range o dente à fúria do mar picado. Por vezes cansada descansa aos poucos avança sem pressa mas sem tempo a perder. Porque perdido o tempo o que restou do momento? Só as sobras das obras que já foram lavadas pelo vento de tudo o que já passou. E o instante de olhada a paisagem voltar à miragem.
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