segunda-feira, março 20, 2006

aperto

Olá num dia de aperto de mão no qual a tal cumprimenta os dedos que se abrem em flor e em surpresa de espasmo vêem que nas pontas das unhas se reflecte um olhar terno invertido pela pessoa que aperta do outro lado do braço. Um traço visível possívelmente marcado seria que ao invés de o sorriso ser sempre rasgado até às rugas dos olhos e o aperto ser de força garrida constante perante qualquer situação, antes a mão denuncia o prevaricador de consciência que se afirma pela inconstância da força com que prime a mão que aperta, proporcional ao valor que atribui à peça que chocalha do outro lado do braço que balança consigo, embalado inimigo metódicamente tocado pela mecânica do sorriso macilento que em tónica de cimento fala e diz o que tem de ser o que é. Desenrola-se entretanto um teatro onde cada marioneta é o próprio fio que a sustenta prende e enlaçada em cruz de pau rodopia puxada pela meada entrelaçada que em rolo a enrolava que nem anzol em cana encalhada. Portanto o silêncio pode ser mais que ausência e menos que tudo, o que fica por dizer antes se concretiza na beleza da simplicidade de uma presença subtil, escapulida por funil infiltra-se por baixo das sombras que dançam no solo com suas damas as chamas pavoneadas esgueiram-se malandras por entre meandros ardidos.

10 comentários:

vistacádecima disse...

Esta muito bom este! (apesar de parecer um texto do saramago)
Conheço pessoas assim tanto as que mostram (ou tentam mostrar) a personalidade pela força com q apertam com as outras q no silêncio observam...

O Meu Outro Eu Está a Dançar disse...

está lindo este!

BREVE

Bom, diz ele,
dia!, diz ela.

Vamos?, diz ele,
Não!, diz ela.

Que há?, diz ele,
Nada!, diz ela.

Então?, diz ele,
adeus!, diz ela.


Alexandre O'neill

celofane disse...

obrigado! Não estou familiarizado com o saramago, mas quero dar uma vista de olhos nesse livro, depois empresta!

Anónimo disse...

Dois beijinhos, nunca mais.A partir de agora só me cumprimentas com apertos de mão!!!

O Meu Outro Eu Está a Dançar disse...

ele disse q o teu texto parece do saramago, porque quase não tem vírgulas... esta descansado que o saramago ainda não teve ideia de falar sobre o aperto de mão!

celofane disse...

ainda bem para ele, senão tinha de o processar!

Anónimo disse...

Os teus comentários estão cada vez melhores!!!Muito bons, mesmo!!!

Uwish4 disse...

lolol... essa de processares o saramago partiu-me toda...lolol

quanto ao texto... compreendi... não me identifiquei no gesto em si porque não dou apertos de mão... bem, raramente... mas identifiquei-me nas "sombras que dançam no solo"... há mtas delas escondidas por esta sociedade, nessas "regras" sociais...

eu sou conhecida por me esquecer de cumprimentar as pessoas (começo com um sorriso e depois parto logo pro diálogo)... por aí vês o meu espírito...

beijo ;)

gato_escaldado disse...

deixo um abraço

Amita disse...

Olá.Tem tanto conteúdo o teu texto que nem sei por onde lhe pegar. Encontro desde máscaras socialmente correctas, prepotência de quem pode, o enlace de situações necessárias mas não desejadas e a respectiva fuga para o silêncio-ausência na busca da Beleza simples. Uma situação de "aperto", a tal a que não se pode fugir. Tens uma maneira muito própria de desenrolar as palavras que lhe dá um especial encanto. Saramago, pelo que li dele, pouca pontuação faz e mistura o discurso directo com o indirecto como lhe apraz; contudo gosto de o ler.
Estive bastante ausente daqui e de muitos lados, tão ocupada me encontrava na transferência do conteúdo de um blog para um novo que abri. Não tenho o teu e-mail pelo que não te pude avisar. Será um prazer receber-te nesse espaço através do nick "Amita I" que aqui te deixo.
Um bjo, uma flor e um belo feriado