"Tirem-me os deuses
Em seu arbítrio
Superior e urdido às escondidas
O Amor, glória e riqueza.
Tirem, mas deixem-me,
Deixem-me apenas
A consciência lúcida e solene
Das coisas e dos seres.
Pouco me importa
Amor ou glória,
A riqueza é um metal, a glória é um eco
E o amor uma sombra.
Mas a concisa
Atenção dada
Às formas e às maneiras dos objectos
Tem abrigo seguro.
Seus fundamentos
São todo o mundo,
Seu amor é plácido Universo,
Sua riqueza a vida.
A sua glória
É a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objectos.
O resto passa
E teme a morte
Só nada teme ou sofre a visão clara
E inútil do Universo.
Essa a si basta
Nada deseja
Salvo o orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver."
Odes de Ricardo Reis em Obra Poética de Fernando Pessoa
8 comentários:
"até deixar de ver" ...
a ultima frase é particularmente incisiva
para mim é...
É bom ter-te de volta...
Um abraço.
tb acho bem vindo de volta pixolas estava a ver q não
Muito profudo. Um bjo e uma flor
Rectifico: profundo (por vezes o meu teclado come letras e olvida espaços :))
Uma flor
«Os deuses feitos à nossa imagem e semelhança».
Abraço
Paulo
Enviar um comentário