domingo, março 12, 2006

"Tirem-me os deuses
Em seu arbítrio
Superior e urdido às escondidas
O Amor, glória e riqueza.

Tirem, mas deixem-me,
Deixem-me apenas
A consciência lúcida e solene
Das coisas e dos seres.

Pouco me importa
Amor ou glória,
A riqueza é um metal, a glória é um eco
E o amor uma sombra.

Mas a concisa
Atenção dada
Às formas e às maneiras dos objectos
Tem abrigo seguro.

Seus fundamentos
São todo o mundo,
Seu amor é plácido Universo,
Sua riqueza a vida.

A sua glória
É a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objectos.

O resto passa
E teme a morte
Só nada teme ou sofre a visão clara
E inútil do Universo.

Essa a si basta
Nada deseja
Salvo o orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver."

Odes de Ricardo Reis em Obra Poética de Fernando Pessoa

8 comentários:

Uwish4 disse...

"até deixar de ver" ...

celofane disse...

a ultima frase é particularmente incisiva

Uwish4 disse...

para mim é...

Imploding Mutant Hysteria disse...

É bom ter-te de volta...
Um abraço.

Anónimo disse...

tb acho bem vindo de volta pixolas estava a ver q não

Amita disse...

Muito profudo. Um bjo e uma flor

Amita disse...

Rectifico: profundo (por vezes o meu teclado come letras e olvida espaços :))
Uma flor

Paulo disse...

«Os deuses feitos à nossa imagem e semelhança».


Abraço

Paulo