quarta-feira, novembro 22, 2006

substracto

Sei que a cada momento posso desleixadamente
perder tanto daquilo que tanto foi trabalhado a cada pesado dia que suado passei.

Só não sei se o sentido que dou à vida é real e se a imagem que tenho de mim corresponde à pessoa que sou.

Assim tudo aquilo que tanto foi trabalhado pode não passar de uma absurda forma de autovalorização desprovida de conteúdo.

E conteúdo o substracto denso do qual procuramos sorver autenticidade.

quarta-feira, junho 21, 2006

o caminho

Limpa a a garganta do obscuro escuro entalado e aclara os olhos límpidos lavados que o estado presente move-se e atropela o pranto. Caminhada hesitante enquanto descalço perante a pedra no solo, levantada pode ter bicharada escondida no escuro por baixo mas pode ser preciosa brilhante por cima e então ser fechada na mão e nunca mais ser largada. Pudera que o caminho agarrado fosse feito de uma só estrada- a recta magistral- percorrida a passo solto salpicado por pontuais saltitantes passadas largas até que de tão esticadas enrolam-se reboladas num corpo cilindrador de papoilas vermelhas onde mil abelhas dançam afundadas no pólen que as recobre imundas. Desenrola-se em passadeira desdobrada o caminho das leves flores vermelhas passado a ferro num berro, o abraço verde da comunhão com as folhas sorvidas pelo pedúnculo oco ocupado por clorofila fluorescente ascendente espalhada na boca explode o sabor aos grandes tapetes de estepes onde a murchidão espreita pelo canto do olho e suprime metálicamente o esgar efusivo de um qualquer malmequer espertalhão, a camomila cai prostrada a seus pés e esconde os estames por detrás de meia pétala rasgada e os estiletes partidos de uma melancólica túlipa cabisbaixa descansam encostados a um torrão de terra. É a guerra.

terça-feira, abril 04, 2006

manias...

Cada blogger nomeado tem de enumerar cinco manias suas, hábitos pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. Além de tornar público o conhecimento dessas particularidades, terão de nomear cinco outros bloggers para participarem igualmente no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogs, aviso do "recrutamento". Além disso cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blog."
Não sei bem o que diga, bem, é o que for:
1-A seguir ao banho matinal tenho uma fase de grande entusiasmo, que pode, ocasionalmente, envolver alguns passos de dança.
2-Em grande contraste vem a fase de colocar a roupa, que implica por vezes longos periodos de quebra ( ficar a olhar para o vazio completamente imóvel).
3-Comprar roupa é uma tortura, demoro imenso tempo, dou imensas voltas, nuncas mais me despacho.
4-Muita gente junta faz-me confusão, gosto de calmaria, uma coisa de cada vez.
5-Perco imensos objectos pessoais fulcrais (nao sei do meu telemovel), esqueço-me de coisas importantes, sou um cabeça no ar.
E para finalizar, convido toda gente do blog Be Bop a Lula a expor todas aquelas manias que guardaram em segredo todos estes anos.

segunda-feira, março 20, 2006

aperto

Olá num dia de aperto de mão no qual a tal cumprimenta os dedos que se abrem em flor e em surpresa de espasmo vêem que nas pontas das unhas se reflecte um olhar terno invertido pela pessoa que aperta do outro lado do braço. Um traço visível possívelmente marcado seria que ao invés de o sorriso ser sempre rasgado até às rugas dos olhos e o aperto ser de força garrida constante perante qualquer situação, antes a mão denuncia o prevaricador de consciência que se afirma pela inconstância da força com que prime a mão que aperta, proporcional ao valor que atribui à peça que chocalha do outro lado do braço que balança consigo, embalado inimigo metódicamente tocado pela mecânica do sorriso macilento que em tónica de cimento fala e diz o que tem de ser o que é. Desenrola-se entretanto um teatro onde cada marioneta é o próprio fio que a sustenta prende e enlaçada em cruz de pau rodopia puxada pela meada entrelaçada que em rolo a enrolava que nem anzol em cana encalhada. Portanto o silêncio pode ser mais que ausência e menos que tudo, o que fica por dizer antes se concretiza na beleza da simplicidade de uma presença subtil, escapulida por funil infiltra-se por baixo das sombras que dançam no solo com suas damas as chamas pavoneadas esgueiram-se malandras por entre meandros ardidos.

domingo, março 12, 2006

"Tirem-me os deuses
Em seu arbítrio
Superior e urdido às escondidas
O Amor, glória e riqueza.

Tirem, mas deixem-me,
Deixem-me apenas
A consciência lúcida e solene
Das coisas e dos seres.

Pouco me importa
Amor ou glória,
A riqueza é um metal, a glória é um eco
E o amor uma sombra.

Mas a concisa
Atenção dada
Às formas e às maneiras dos objectos
Tem abrigo seguro.

Seus fundamentos
São todo o mundo,
Seu amor é plácido Universo,
Sua riqueza a vida.

A sua glória
É a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objectos.

O resto passa
E teme a morte
Só nada teme ou sofre a visão clara
E inútil do Universo.

Essa a si basta
Nada deseja
Salvo o orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver."

Odes de Ricardo Reis em Obra Poética de Fernando Pessoa

quarta-feira, março 08, 2006



m. direitos de autor copyright judia&co

quando

Desembolsada ausencia figura a tua renumeração tardia envolvida em bruma fria que tarda em chegar. Mordaz a bolsa vazia que faz da cabeça um fosso oco esventrado de um poço de areia ecoado em buraco de ar. Flutuas tu que tens a leveza de um bolso furado nas nuvens mas pesam-te nas mãos os calos de tanto andar a fazer o pino no chão de gravilha derrapada, desgastas as palmas e gastas as pilhas batidas derretidas na ponta da língua palrada no palco percurtido com cajado de madeira densa, o som ecoa por entre as pernas das cadeiras vazias e toda a gente sabe escondida por detrás das cortinas que o espectáculo da vida vai começar.

sábado, março 04, 2006

aquilo

Levas tantas que ás tantas nem sabes às quantas andas. Levas poucas que ás tantas nem andas com tantas que tens. Se tens muitas desvalorizas aquilo a que precisamente deves dar mais valor. Portanto deves ter cuidado para quando levares trazeres sempre daquilo que mais importante se torna.

fim

O fim. Por fim poderá enfim dos escombros erguer-se à altura dos ombros a base apoiada em massa de cal amassada a partir da qual um novo resfolegado princípio folgado poderá emergir.